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Os diferentes agentes do AKIS português, reunidos no Polo de Inovação de Vairão (Vila do Conde) por iniciativa da Fundação Juana de Vega no âmbito do projeto europeu KICAP, concordam com a necessidade de estabelecer processos interativos de geração e transmissão de conhecimentos entre agricultores, técnicos e investigadores
A avaliação da situação atual dos AKIS em Portugal identificou alguns sinais de fraqueza comuns a outros países da UE: financiamento insuficiente, falta de coordenação, alheamento do sector e de alguns intervenientes relevantes.
Ultrapassar estas barreiras iniciais e promover uma relação mais forte entre os diferentes agentes envolvidos na geração e transmissão da inovação é uma prioridade para o Ministério da Agricultura português no atual período da PAC.
Ana María Ribes faz parte da equipa de dinamização da Rede Rural Nacional de Portugal que tem um papel importante no acompanhamento do desenvolvimento da rede AKIS do país. “Neste momento, o AKIS em Portugal está um pouco fragmentado e vamos tentar alterar esta situação através do envolvimento de mais técnicos e consultores agrícolas para garantir que a divulgação da inovação e do conhecimento chegue mais rapidamente aos produtores”, afirma.
“Vamos dar mais formação aos técnicos para que este conhecimento chegue ao agricultor”
Ana María Ribes, Rede Rural Nacional de Portugal
“Foi identificada a necessidade de dar mais formação aos técnicos e consultores nas áreas que foram priorizadas neste novo Plano Estratégico da PAC para poderem transmiti-las ao agricultor, em temáticas como a inovação, os ecorregimes ou a adaptação às alterações climáticas”, especifica.
O objetivo é também conseguir uma maior integração e aproveitamento dos recursos. “Neste momento, em Portugal, a consultoria pública e a consultoria privada não estão interligadas, não estão ligadas entre si e, aparentemente, o serviço público é mais fraco quando se trata de transmitir inovação. Por isso, estamos a criar grupos de trabalho em que participam técnicos públicos e privados para fomentar esta relação”, explica Ana María Ribes.
Dar valor aos consultores
A nova PAC reforça o papel dos consultores no fortalecimento dos AKIS e na aproximação entre o conhecimento e a aplicação no sector agroalimentar. Os consultores agrícolas tornam-se, assim, facilitadores da inovação.
Rui Almeida é consultor privado e trabalha há anos em projetos para melhorar a coordenação do sistema de inovação agrícola, tanto em Portugal como a nível da UE, procurando valorizar o trabalho e as qualificações dos consultores agrícolas.
“Um dos nossos pontos fracos em Portugal é a promoção da adoção real da inovação. Já se faz muita investigação e já há agricultores envolvidos, mas o que falta é consolidar a adoção dessas novas práticas mais a longo prazo e pelo sector como um todo”, assegura.
“Todos temos lugar no AKIS; o objetivo é desenvolver a investigação e a inovação para resolver os problemas dos agricultores ou responder a oportunidades futuras”
Rui Almeida, consultor agrícola
Para atingir este objetivo, considera que “o mais importante é contar com um serviço de aconselhamento técnico forte, formado e capacitado para responder a estes desafios. Os consultores são uma peça-chave não só para identificar oportunidades e ameaças em conjunto com os agricultores, mas também para fazer parte de uma rede que permita resolver esses problemas ou potenciar essas oportunidades que surgem”, insiste.
I2Connect: um AKIS europeu integrado e eficiente
É precisamente este o objetivo do I2connect, um projeto em que Rui participa e que é financiado pelo programa de investigação e inovação da UE, Horizonte 2020. O I2connect pretende criar uma plataforma de consultores a nível europeu, inventariando quem são os técnicos que trabalham na área da inovação agrícola nos diferentes países e qual a sua experiência, de forma a ser possível partilhá-la com os restantes.
“Procuramos dotar os consultores da capacidade e do conhecimento para poderem trabalhar em inovação interativa, que é a inovação baseada na interação dos diferentes agentes, onde cada passo é fruto de uma discussão conjunta, conseguindo assim agregar o conhecimento de cada um e onde o resultado final é muito mais democrático e muito mais útil e utilizável por todos”, sublinha.
No âmbito deste projeto, foi efetuada uma análise exaustiva da situação de partida em cada país. “Em Portugal, o nosso AKIS está cada vez mais maduro. Houve uma evolução muito grande nos últimos 10 anos e hoje em dia podemos ver uma importante mudança de perceção. Questões como a inovação já não são vistas como algo inalcançável, mas como algo necessário para enfrentar desafios como as alterações climáticas ou as novas políticas europeias em diferentes domínios”, assegura Rui.
No entanto, defende que “é necessário trabalhar em conjunto e em aspetos inovadores em termos de produtos, novos processos e novos serviços para que nos próximos anos possa ser realmente um apoio fundamental para o sector agrícola, florestal e também para a indústria agroalimentar”.
O papel da formação na modernização agrícola
No triângulo Ciência-Inovação-Educação, este último vértice está um pouco mais desligado do sistema. Constata-se a existência de um certo distanciamento com os intervenientes ligados à formação profissional e também à formação contínua dos restantes intervenientes do AKIS. Isto apesar de este ser um aspeto muito relevante para o sector agrícola nesta década, uma vez que a formação agrícola se tornará particularmente importante para enfrentar desafios como a mudança geracional, as alterações climáticas ou a digitalização.
Zulmira Campelo trabalha como professora na Associação de Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), que criou uma academia para a formação dos seus membros. Trata-se de um projeto recente que pretende contribuir para a assistência e capacitação dos titulares de explorações e dos novos operadores da atividade.
“É muito importante que os agricultores tenham formação porque estarão mais capacitados para conseguir desenvolver uma agricultura mais sustentável e com maior valor acrescentado”, afirma. A AJAP é uma das principais organizações de produtores em Portugal e procura atuar como elo de ligação entre os agricultores e as instituições, tanto a nível estatal como europeu. Por esse motivo, está também representada em Bruxelas. Neste sentido, Zulmira destaca o papel destas entidades como “transmissores para o terreno” das novas políticas da PAC.
Fosso entre gerações
Outro dos principais objetivos da AJAP é ajudar os agricultores a aproveitar os fundos disponíveis em matéria de inovação e, assim, contribuir para a modernização do sector agropecuário em Portugal.
Mas a porta das explorações nem sempre se mantém aberta à inovação e à adoção de tecnologias que conduzam a um aumento da produtividade, da sustentabilidade e da comunicação entre agricultores e consumidores.
“Identificámos a falta de motivação para a inovação na maioria dos nossos agricultores mais velhos“
Zulmira Campelo, Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP)
“Há uma luta de gerações entre os jovens agricultores, que querem avançar, e a geração mais velha, que é a maioria, e mais relutante em mudar. Não sei se é uma barreira física, uma barreira cultural ou que tipo de barreira”, reconhece Campelo.
Ações de demonstração e transferência
Um dos grandes problemas da formação agrícola nos dias de hoje é a falta de uma oferta integrada, uma vez que existe um leque de conhecimentos dispersos em termos de aprendizagem, onde o saber teórico carece de medidas orientadas para a transferência de conhecimento.
“Falta transferência de informação da investigação para o agricultor”
Zulmira Campelo, Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP)
Foi identificada a necessidade de inovar nas fórmulas de divulgação e intercâmbios de conhecimento através de ações práticas, espaços de encontro e livinglabs. As visitas de demonstração são atividades muito bem recebidas pelos agricultores e criadores de gado, pois fazem parte de um processo de transferência do conhecimento entre pares, em que os agricultores mostram in situ, nas suas explorações comerciais, os resultados da implementação de novos processos ou tecnologias para melhorar a produtividade e a sustentabilidade das explorações. Este tipo de atividade gera redes que ligam os agricultores entre si.
Implementar as Demo Farms
Para fomentar os ecossistemas de inovação aberta, a Europa propõe o estabelecimento de uma rede de explorações de demonstração que possam funcionar como polos de inovação para promover a melhoria da rentabilidade, da produtividade e da sustentabilidade dos produtores através de exposições, do intercâmbio de melhores práticas, de histórias de sucesso e do debate sobre assuntos da atualidade, seguindo o exemplo da Teagasc na Irlanda.
“Vamos implementar quintas experimentais porque estas Demo Farms desempenham um papel importante na divulgação do conhecimento e da inovação. Permitem um intercâmbio com quem já experimentou os resultados destas novas técnicas, algo que é fundamental para que outros agricultores adotem estas melhorias nas suas explorações”, assegura Ana María Ribes.